Filmes de ação desfrutam de uma vantagem um tanto única na indústria cinematográfica: nenhum deles compete por aprovações e premiações e, em sua maioria, buscam apenas oferecer uma representação bastante distorcida da realidade – literalmente, sua maior qualidade é a oportunidade de escapar daquelas produções que nos fazem refletir demais, sentir demais.
Beekeeper – Rede de Vingança, nova produção da Diamond Films, dirigida por David Ayer e estrelada por Jason Statham, é justamente esse tipo de filme: ele traz muito pouca – nenhuma, alguns diriam – inovação, rapidamente entra nas sequências de explosões, tiros e lutas e segue esse curso até o seu desfecho, sem se preocupar muito em explicar os eventos em tela. Há quem pense que isso é ruim; eu prefiro pensar que é perfeito.
Narrativa simplista de Beekeeper é seu maior atrativo
Narrativamente, Beekeeper é o nome de um antigo programa militar secreto dos EUA onde, quando tudo mais – ordem, processo legal etc. – falha, os agentes desse programa entram em ação, meio que “chutando portas e traseiros” até que a normalidade seja restaurada na base da pancada.
Statham interpreta Adam Clay, um ex-Beekeeper aposentado que se muda para o interior dos EUA para se tornar apicultor e produtor de mel (beekeeper, em inglês, significa “apicultor”). Acontece que sua vizinha, uma senhora idosa pela qual Clay tem grande respeito, acaba se matando após ser vítima de um golpe de phishing que roubou todo o seu dinheiro.
A partir daí, ocorre uma sequência ininterrupta de coreografias de combate à la Mercenários (filme do qual Statham é co-protagonista) e algumas pessoas importantes soltando frases de efeito como “espera aí, você está me dizendo que um Beekeeper está vindo? Oh, não” e coisas do tipo.
As sequências, aliás, são bastante previsíveis: Adam Clay mata um grupo de mercenários que o caça e, do outro lado do país, um executivo de uma empresa de TI e o CEO, seu filho adotivo e um estereótipo do “cara de tecnologia de startups”, debatem sobre como “nossa, é um Beekeeper? Pois é, estamos ferrados” e decidem quanto dinheiro terão que mover para evitar a vingança iminente do personagem principal.
Isso não é uma crítica, acredite: como eu disse, filmes de ação têm a vantagem de ser uma válvula de escape de outras produções que nos obrigam a pensar. Às vezes, uma abordagem simples é exatamente o que procuramos para um entretenimento rápido – e Beekeeper oferece isso em abundância.
Se eu tivesse que apontar algo negativo nessa parte, provavelmente seria a atuação: de todo o elenco, apenas Emmy Raver-Lampman (Umbrella Academy) parece tentar trazer um pouco de dramatismo ao seu papel (ela interpreta a agente do FBI… e filha da idosa que se suicida), dada a dedicação pessoal da personagem.
Todo o restante, desde Statham até Jeremy Irons (o diretor da empresa e ex-líder da CIA), passando por Josh Hutcherson (o CEO de uma startup responsável pela briga) e Jemma Redgrave (a mãe do CEO e alvo de uma reviravolta improvisada, mas muito interessante), todos parecem estar em uma zona de conforto que lembra outros filmes em que já participaram em algum momento de suas carreiras.
Além disso, tudo se encaixa em um molde que já esperamos de um filme de ação.
Abordagem modernizada abre espaço para uma exploração maior do gênero
Filmes de ação tendem a seguir um padrão de enredo bastante conhecido: algum conflito em algum lugar justifica o envio de um ou mais agentes secretos, mas nem tanto. Tiros, lutas e explosões acontecem.
A ideia de Beekeeper de manter esse padrão, mas de uma forma adaptada aos tempos modernos, é algo que pode ter muito sucesso no futuro: ao ambientar a história em uma temática moderna – os golpes reais e perigosos de phishing na internet – David Ayer conseguiu aproveitar um enredo simplificado (não é uma situação de escala global) que permite um crescimento amplo (pode se tornar uma situação de escala global).
Você se lembra de Duro de Matar 4.0, quando John McClane (Bruce Willis) teve que enfrentar hackers? A impressão é mais ou menos a mesma: vamos pegar uma ameaça contemporânea real e colocá-la em um contexto que justifique as cenas de ação – mesmo que Beekeeper e Duro de Matar 4.0 tenham uma compreensão equivocada semelhante sobre “hackers”, apostando nos jovens das startups com ternos, fones de ouvido e penteados estranhos – algo que seu avô entenderia se você tentasse explicar o Anonymous.
Apesar desse anacronismo, a receita funciona. E funciona bem: o enredo enfatiza a necessidade do personagem de Statham de caçar os líderes dos crimes cibernéticos – e apenas eles. Então, mesmo que o contexto dos golpes de hackers esteja estabelecido, o desenvolvimento da história ainda se aproveita de recursos familiares, conferindo um ar de “personagem perigoso” apenas a quem merece essa percepção.
Beekeeper é diversão garantida para quem procura entretenimento fácil
Eu gostei muito de assistir Beekeeper. Apesar da narrativa simples e das zonas de conforto da maioria dos atores, o filme como um todo funciona, com todas as peças se encaixando de maneira inteligente e nenhum personagem sendo deixado para trás. Até mesmo os erros de continuidade das cenas – algo comum em um filme de ação caótico – são minimizados e quase imperceptíveis.
O melhor de tudo é que o final é deliciosamente ambíguo, deixando a impressão de que, se a Diamond Films quiser, poderá haver uma continuação. Caso contrário, o desfecho desta produção também funciona como um encerramento. Esse tipo de conclusão cinematográfica é relativamente raro, o que me deixou particularmente satisfeito.
Beekeeper – Rede De Vingança estreia exclusivamente nos cinemas em 11 de janeiro de 2024.
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