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Ghostrunner 2 brilha quando é mais Ghostrunner, e tropeça quando não é


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Ghostrunner 2 é mais Ghostrunner.

Mais em termos de ação, mais habilidades, mais ambientações, mais história, até mais modos de jogo. Ele também é um Ghostrunner maior, especialmente quando os portões da Torre Dharma se abrem para a exploração do mundo ao seu redor com uma moto futurista.

O que eu levei um tempo considerável para decidir é, se no geral, esse mais e maior significava necessariamente melhor.

E, em alguns aspectos, a resposta acabou sendo não.

Mas, quando voltei a jogar o Ghostrunner original, deu para ver o quanto o estúdio One More Level refinou a jogabilidade nesta sequência, especialmente com mecânicas simples, mas que mudam radicalmente o que você consegue fazer durante o combate.

Tudo isso enquanto mantém sendo um incrível exercício filosófico sobre dar murro em ponta de faca até ela quebrar – seja por força bruta ou engenhosidade da sua parte.

Por isso, nos seus elementos fundamentais, Ghostrunner 2 melhora muito em relação ao seu predecessor, sendo constantemente uma experiência catártica. E frustrante.

E catártica. E frustrante.

E por aí vai.

A Ira de Asura

O primeiro Ghostrunner foi uma das surpresas mais legais de 2020, e – pelo menos para mim –, o melhor jogo com estética cyberpunk feito na Polônia que saiu naquele ano.

(Soube que outro que saiu naquele ano melhorou bastante recentemente)

Enfim, obviamente o sucesso abriu as portas para uma inevitável sequência. O que por si só é um desafio, já que a narrativa do jogo original era relativamente redonda, com o final dando a entender que os habitantes da Torre Dharma finalmente estavam livres para definir o seu futuro depois da derrota da Guardiã das Chaves e do Arquiteto.

Bom, aparentemente nem tanto.

O segundo jogo começa com várias facções diferentes lutando pelos territórios e recursos da Torre, e uma das principais delas são os Escaladores, que tem como arma principal nosso protagonista, o ciborgue Ghostrunner 74 – ou Jack, como ele prefere ser chamado.

E como não tem nada tão ruim que não possa piorar, um grupo conhecido como Asura, formado por outros Ghostrunners até então desaparecidos, surge pra causar ainda mais problemas para todo mundo.

A narrativa de Ghostrunner 2 segue um caminho parecido com o jogos como Doom Eternal e Wolfenstein 2, se aprofundando mais na história e no mundo, até contando com um hub entre as fases pra você conversar com seus companheiros de revolução.

É um jogo com bem mais narrativa que o primeiro, mas neste caso não achei que o "mais" é necessariamente "melhor". Não que a história de Ghostrunner 1 fosse incrível ou coisa assim, mas o escopo menor dava espaço para as coisas respirarem, especialmente tudo relacionado aos vilões. Além disso, o fio condutor de subir a Torre de baixo até o topo era simples, mas funcionava bem em termos de progressão.

Aqui? Há um ou outro personagem mais aprofundado ou um conceito legal levantado, mas no geral essas coisas acabam ou sendo pouco desenvolvidas, ou até indo em uma direção menos interessante do que poderia ter seguido à primeira vista.

O estilo dos diálogos também me deixou meio

Mas, pra ser justo, não acho que muita gente jogue Ghostrunner esperando por uma história super complexa, e o melhor que dá pra dizer é que ela faz o seu trabalho – que, no caso, é dar desculpas pra cortar inimigos ao meio, ou morrer tentando.

E, geralmente, você vai morrer tentando.

Corte. Morra. Repita.

Para quem não conhece, o combate de Ghostrunner funciona da seguinte maneira: com exceção de chefes, todos os personagens são derrotados com um golpe.

Isso vale tanto para os inimigos, quanto para o próprio protagonista.

Na linha de jogos como Hotline Miami e Katana Zero, cada batalha é um quebra-cabeças a ser resolvido – com a solução sendo geralmente desmembramentos e decapitações.

Para vencer as batalhas, o jogador precisa estar atento a tudo ao seu redor, já que é só fazer um erro e você morre e é mandado de volta para o último checkpoint pra tentar de novo.

Era uma fórmula que os desenvolvedores já trabalharam bem no primeiro jogo, e aqui ela ganha contornos ainda melhores graças a novas mecânicas, com a principal delas sendo o bloqueio.

Em Ghostrunner 1, era tecnicamente possível bloquear e aparar os golpes inimigos, mas pra isso você precisava de um nível de precisão especial na hora de usar o botão de ataque.

Em Ghostrunner 2, há um botão específico para levantar a espada e segurar alguns golpes. Não só isso, ao apertar ele no momento exato, dá pra jogar um projétil de volta pro inimigo, ou aparar um golpe, e derrubar o oponente.

Só esta mecânica já te dá mais jeitos de pensar em como atacar cada grupo de inimigos, e neste sentido foi até difícil voltar pro primeiro jogo.

O que não mudou é a sensação de velocidade e o ritmo do combate, que é sempre extremamente acelerado, com breves momentos de câmera lenta.

Essa sensação de velocidade e rapidez é essencial pra que a estrutura do jogo funcione, já que se o gameplay ou o tempo de carregamento dos checkpoints fossem um pouco mais lentos, você ficaria mais frustrado com as mortes, e menos aliviado quando finalmente vencesse.

Especialmente jogando pela primeira vez, você vai morrer muito – às vezes literalmente dezenas de vezes –, e por isso é importante ter um tempo bem pequeno entre uma tentativa e outra, mas também o suficiente pra te repensar a sua estratégia.

De certa forma, o mesmo vale para as sessões focadas no parkour, sendo preciso de observação e tempo de reação rápido pra saber quando correr, saltar ou usar alguma habilidade para abrir caminho.

Minha crítica maior é que, embora os controles costumem ser precisos e ter um bom tempo de resposta, às vezes eles te "traem", seja dando um salto em falso no fim de uma travessia, ou especialmente ao mirar em alguma coisa pra enganchar, só que o gancho acaba indo pra um objeto mais próximo.

Admito que vacilei várias vezes e pulei na hora errada ou no ângulo errado, mas juro que muitas das vezes que morri foi porque o jogo, por algum motivo, fez algo que eu não pretendia.

Mas isto é mais a exceção do que a regra, e em geral poucos jogos conseguem executar o ciclo "Viva. Morra. Repita." tão bem quanto Ghostrunner 2.

Falha de memória

É claro que, conforme o jogo progride, Jack vai ganhando novas habilidades que podem ser usadas durante o combate e para a solução de quebra-cabeças mais tradicionais, que vão desde shurikens até um modo de invisibilidade.

Honestamente, usei eles bem menos do que gostaria ou até deveria. Parte disso é porque eu joguei esse jogo pra review, e nesses casos a sua cabeça acaba ficando focada demais em certas coisas pra acabar a campanha o mais rápido possível.

Mas, também, há uma limitação de energia nessas habilidades que não me incentivou a usar mais a não ser que fosse absolutamente necessário, com o modo de invisibilidade sendo o que mais sofreu com isso.

Dá pra diminuir um pouco desse tempo de carregamento por meio de upgrades, mas o próprio sistema de upgrades tem suas próprias questões.

No primeiro jogo, você melhorava certas habilidades e criava um build próprio encaixando blocos de Tetris em um retângulo – um sistema tão qualquer coisa que eu genuinamente tinha esquecido que ele existia.

Em Ghostrunner 2, você modifica e melhora suas habilidades por meio de chips instalados na sua memória interna. Para desbloquear os chips, você gasta pontos adquiridos durante o combate. Para ter mais memória, você precisa procurar por fragmentos escondidos pelo mapa.

É um sistema melhor que o primeiro, mas sofre com o problema da tirania da escolha, trazendo atributos demais pra pouco espaço. Alguns upgrades são essenciais, como a habilidade de bloquear golpes de inimigos mais fortes, enquanto outros são bem mais abstratos.

Isso sem falar que, até você comprar um chip específico, só dá pra colocar chips de um determinado tipo em cada coluna, o que é bem limitante.

Em teoria há mais escolhas para fazer builds diferentes, mas na prática eu acabei ficando entediado com esse sistema inteiro quanto mais habilidades e espaço de memória eu desbloqueava.

Afinal, pra quer ficar fazendo isso quando eu poderia estar cortando mais gente no meio ou pilotando uma bike?

Estrada da fúria

De todas as adições de Ghostrunner 2, a mais vendida no marketing foi a motocicleta, que te permite explorar o mundo devastado fora da Torre Dharma.

É, ao mesmo tempo, uma ótima novidade, e também uma que não parece ter atingido seu potencial no jogo.

As fases dedicadas a correr com ela pela torre ou dentro de um bicho gigante – longa história – são excelentes, e dão ainda mais uma sensação de velocidade e movimentação rápida pro gameplay.

(Incluindo as múltiplas mortes, dessa vez derivadas de encontros inesperados com paredes)

Já as partes de exploração do mundo em si acabam sendo menos interessantes, em parte porque os mapas são de um pós-apocalipse meio genérico, e em parte porque, tirando alguns momentos, os devs não conseguiram integrar e misturar o combate à pé com o combate na moto.

Aliás, pelo contrário, há uma clara delimitação nas partes em que você pode ir de moto, e nas que você tem que descer e seguir o caminho a pé.

Sem falar que, nas partes de exploração, não foram poucas as vezes que eu fiquei preso na geometria do mapa.

Pelo menos dá pra fazer umas manobras divertidas, tipo saltar pra fora da moto enquanto ela atravessa um buraco gigantesco, e voltar pra ela via gancho.

Para fechar, vale falar que a One More Level colocou alguns extras especiais pra quem quiser testar ainda mais suas habilidades com as mecânicas de Ghostrunner, que vão desde desafios especiais escondidos pelo mapa até mesmo um modo roguelike que você pode acessar tanto do menu quanto do seu QG.

São quatro níveis com várias fases diferentes, e você vai desbloqueando ou habilidades ou ganhando mais vidas conforme escolhe o caminho de cada uma.

Não é nada de revolucionário, mas é divertido pra quem quiser a experiência de gameplay de Ghostrunner em outro contexto.

Enfim, levei algum tempo para definir se achei a experiência de Ghostrunner 2 melhor do que a do primeiro. De certa forma, seria impossível capturar a mesma sensação de surpresa que tive anos atrás, jogando o original pela primeira vez.

Mas, mesmo com todos os poréns, é impossível para mim não recomendá-lo, seja se você curtiu o primeiro jogo, ou se tem interesse em jogos de ação de ritmo rápido.

Em certos pontos dá pra sentir que a ambição dos desenvolvedores em querer fazer algo maior para a sequência não foram tão bem-sucedidas em certos aspectos. Mas o combate, que já era excelente, conseguiu ser aperfeiçoado, e você não vai encontrar muitos jogos de ação mais desafiadores do que este em 2023.

 

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