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Dead Space é o remake praticamente perfeito


Smoke122

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Em meio à enxurrada de recentes remakes de videogame, o anúncio do retorno de Dead Space foi uma grata surpresa. Enquanto o original de 2008 se tornou um clássico instantâneo, o terceiro jogo foi uma decepção que causou o engavetamento da franquia por uma década inteira.

Com o estúdio Visceral Games fechado, a tarefa nada fácil de revitalizar o primeiro capítulo da série ficou nas mãos do Motive Studios, que fez Star Wars: Squadrons. E o resultado é quase tão miraculoso quanto o próprio retorno de Dead Space.

A nova versão consegue se manter fiel aos melhores aspectos do original, atualizando seu visual e suas mecânicas, ao mesmo tempo que faz modificações pontuais e necessárias que impede que o fã mais antigo tenha a sensação de mesmice. Dead Space remake é um dos jogos de horror de sobrevivência mais marcantes de todos os tempos em sua melhor forma. 

 

 

MAIS CONTEÚDO NA HISTÓRIA

Com inspirações em filmes como Alien e Enigma de Outro Mundo, a história de Dead Space se passa no ano de 2508, durante o século 26. A USG Ishimura, uma nave mineradora gigantesca da corporação CEC, fica incomunicável após enviar um sinal de socorro.

Então a CEC manda uma pequena nave com uma equipe de cinco pessoas para investigar. Entre eles, está o engenheiro Isaac Clarke que, além de tudo, perdeu contato com sua namorada Nicole Brennan, que estava trabalhando na Ishimura.

Durante o processo de atracagem, um acidente danifica a nave de Isaac. Não demora muito até que ele e seu grupo descubram que, não apenas a tripulação desapareceu, mas existem criaturas assassinas mutantes em todos os lugares, os necromorfos. Enquanto tenta sobreviver na nave e achar Nicole, Isaac vai descobrindo uma grande conspiração envolvendo uma religião sombria que pode estar por trás do desastre. 

A história do remake, que agora conta com textos e legendas em português, não tenta reinventar a roda e se limita apenas a expandir um pouco do minimalismo do original. Entre as novidades, o protagonista agora fala, participando verbalmente de situações onde era estranho não reagir. Isaac é interpretado novamente pelo ótimo Gunner Wright, que deu voz a ele nas duas sequências.

Para os fãs preocupados, não tem porque se afligir: os desenvolvedores foram muito cuidadosos para que o personagem não se tornasse tagarela. Talvez cuidadosos até demais, pois em certos momentos, eu senti que uma fala ou reação verbal de Isaac seria bem-vinda. 

Entre as várias revelações do jogo, está também um pouco mais sobre o passado da família de Isaac e sua relação com a Igreja da Unitologia, uma das organizações chave para a mitologia da franquia. Essa é uma das atualizações mais legais que a nova versão traz: deixar os personagens mais tridimensionais.

Seja transformando o coadjuvante Hammond em alguém mais digno de simpatia ou oferecendo novas perspectivas sobre alguém por meio de registros de áudio. O enredo muda poucos eventos, mas não perde a oportunidade de ir mais fundo em elementos já existentes na versão de 2008.

Esse aprofundamento se reflete também na duração do jogo, que é um pouco maior. Em parte, por causa das novas missões secundárias, que oferecem como recompensa registros do que aconteceu com alguns personagens e também melhoramentos para o equipamento.  

FERRAMENTAS DE COMBATE

O sistema de combate de Dead Space já era antes extremamente satisfatório e a nova versão soube se aproveitar disso. Apesar de ser a mesma seleção de armas do original, mudanças interessantes chegaram a todas elas, atingindo o funcionamento, o balanceamento e até os upgrades.

Apenas quatro armas podem ser usadas por vez, mas não é mais preciso deixar as outras no cofre, o que incentiva a rotatividade de arsenal e experimentação nas batalhas.

Ter a arma certa para cada situação é vital para sobreviver às emboscadas criadas pelos monstros. Na dificuldade normal, a munição também é escassa durante a maior parte do jogo, por isso gerenciar bem seu inventário, aperfeiçoar seu equipamento e decidir quando usar cada arma pede inteligência do jogador.

Às vezes, quando encurralado, a melhor saída é usar a estase, um recurso que cria uma dilatação de tempo e faz o alvo se mover muito lentamente, proporcionando situações de fuga ou um respiro para um tiro preciso. Em outros momentos de escassez, a solução é a cinese, que lança objetos explosivos ou pontiagudos contra inimigos. 

UMA ÁREA INTERCONECTADA

O remake oferece muitas áreas de gravidade zero e deixa Isaac flutuar sem a limitação de magnetizar o personagem em uma superfície. Isso, é claro, deixa a jogabilidade mais dinâmica.

Assim como nos novos God of War, Dead Space também abraça de vez o plano sequência, que é algo com o qual o jogo original já flertava. Ou seja, da primeira cena até o final, não existe corte de cena.

Para isso, foi preciso também mudar a forma que a campanha do jogo se organiza. Em vez de capítulos e ambientes separados, o design de área da Ishimura é interconectado, com sua circulação pela nave se tornando livre em certo ponto.

Desde que você desbloqueie as estações, é possível usar um monotrilho para ir e voltar entre as várias seções ou mesmo fazer o caminho a pé. Existe ainda um sistema de níveis de segurança que bloqueia acessos até que a história avance o suficiente. Assim, o remake se torna um jogo menos linear e que até incentiva a revisitação de áreas anteriores para buscar itens ou completar missões secundárias. 

VISUAL E SOM 

Por causa desse design de ambiente, Dead Space precisou implementar uma tecnologia de inteligência artificial para continuar assustador. Esse gerador de eventos aleatórios serve para impedir que aconteçam períodos longos de calmaria ou ação muito contínua. Um necromorfo atacando, uma luz falhando, algum barulho pelos dutos de ventilação… Sempre que você retornar a áreas já visitadas, algo dinâmico vai acontecer para atrapalhar seu sossego. 

Com trunfos assim, o remake consegue o feito quase impossível de melhorar uma das atmosferas mais imersivas da história dos games. O uso excepcional de luz, sombra e neblina nos cenários ou a forma que cada sala tem uma espécie de narrativa sobre algo que aconteceu ali é parte da mágica.

A direção de arte é meticulosa e não tenta mudar drasticamente o que já funcionava em 2008. Tudo é marcado por uma estética de baixa tecnologia, suja, empoeirada e que  foi cenário de uma carnificina.

A interface do usuário é, depois de todos esses anos, ainda uma sacada brilhante. Ela é quase toda é diegética, ou seja: boa parte do que aparece no HUD para o jogador, é algo que existe naquele mundo, uma projeção holográfica que está sendo vista pelo protagonista.

Ainda sobre o visual, um dos artifícios mais impressionantes está nos modelos dos necromorfos, que não apenas são desmembrados, mas também têm várias camadas. Quando, por exemplo, o Canhão de Força, que funciona como uma escopeta de ar, é disparado, cada tiro vai arrancando pele, depois músculo, até chegar aos ossos.

E não é possível falar de Dead Space sem mencionar o famoso design de som da franquia. No remake, as trilhas e sons do original foram mantidos e combinados com novas faixas e ruídos.

Tudo isso foi suportado por novas tecnologias que mapeiam com mais precisão aspectos tridimensionais do áudio. Como ele se propaga e reverbera, surge e desvanece pelas salas da nave e mesmo como ele não se propaga no vácuo. 

É possível ainda ouvir as batidas do coração e a respiração de Isaac reagindo aos eventos e cada fala do personagem foi gravada três vezes: em versão normal, ofegante ou sofrendo por ferimentos. A atenção aos detalhes é assombrosa!

ASPECTOS TÉCNICOS

Dead Space remake ignorou a oitava geração de consoles e está disponível apenas para PlayStation 5, Xbox Series X/S e PC. Enquanto o Xbox Series S roda em um único modo com resolução menor (1080p) e com menos efeitos, o PS5 e Series X contam com duas opções gráficas.

O modo resolução, que oferece 4K, traçado de raio e 30 quadros por segundo, e o modo desempenho, com Quad HD escalonado para 4K sem ray tracing e 60 quadros por segundo.

A versão que eu joguei foi a do PS5 e ambos os modos foram satisfatórios para mim. Enquanto o desempenho oferece fluidez de 60 fps, que torna o combate ainda mais gostoso, os efeitos de neblina e melhor iluminação do modo resolução entregaram uma ambientação mais atraente.

Mesmo eu, que costumo fugir de experiências em 30 fps sempre que posso, não me incomodei e não percebi grandes quedas aparentes de taxa de quadros.

O problema técnico que quebrou minha imersão repetidas vezes foi a chamada física rag doll ou “física do boneco de pano”. Os milhares de cadáveres de humanos e monstros espalhados pelos ambientes se reagem como manequins de borracha que frequentemente causam problemas de colisão com portas, paredes e outros objetos.

Esse era um defeito cômico muito comum em jogos de uma década atrás, mas que não deveria em todos os lugares de um game de horror tão atmosférico e construído com uma versão já tão avançada do motor gráfico Frostbite.

Por fim, vale mencionar que a versão do PlayStation 5 conta com suporte completo ao DualSense. A resposta tátil e gatilhos adaptáveis são bem legais e dão aquela valorizada no combate, assim como o alto falante do controle, que emite sons complementares aos da TV.

VALE A PENA?

O Dead Space de 2023 pode ser a melhor porta de entrada para novatos na franquia, mas não deixa também de surpreender quem jogou o original, impedindo que sua memória preveja todas as surpresas que cada nova área reserva. 

Os melhoramentos vão muito além de gráficos atuais e narrativa aprimorada. Eles trazem também inúmeras atualizações de qualidade de vida que fazem a experiência do usuário ser muito mais agradável em termos de jogabilidade.

É ótimo que os desenvolvedores do Motive Studios tenham incluído no remake certas evoluções que deram certo nas continuações e não estavam no original.

De Dead Space 2, eles usaram a cinese com empalamento e o "voo livre" em gravidade zero; e até o fraco Dead Space 3 trouxe alguma contribuição positiva, inspirando a quebra de linearidade com a inclusão de missões paralelas. Existem ainda conteúdos extra no Novo Game Mais e a mais interessante é um final alternativo totalmente inédito.

O maior elogio que eu poderia dar ao remake de Dead Space é como ele me lembra o impecável remake do primeiro Resident Evil. É uma nova versão que amplia o enredo, usufrui de todas as suas vantagens técnicas de uma nova geração e é quase sempre muito fiel ao material original. Talvez até um pouco fiel demais, já que alguns poucos trechos, como a última batalha, teriam sido beneficiados por mudanças menos conservadoras.

De todo modo, o produto final é extremamente positivo e honra o legado de um dos melhores survival horror de todos os tempos. Dead Space remake não passa a sensação de uma reprise, mas consegue oferecer uma experiência refrescantemente assustadora, assim como na primeira vez.

 

 

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