Nos últimos anos, a tecnologia blockchain vem ganhando espaço no setor dos videogames, embora muitas vezes de forma discreta e sem grande alarde. Isso se deve, em parte, à resistência inicial de jogadores e desenvolvedores em relação aos termos associados à Web3, como NFTs e criptomoedas.
No entanto, com o avanço da integração da tecnologia blockchain e da inteligência artificial (IA), muitos estúdios têm desenvolvido novas formas de utilização para melhorar a experiência do jogador, sem necessariamente enfatizar os jargões tecnológicos que muitas vezes causam reações adversas.
Essas tecnologias já estão bem integradas em diversos setores e a tendência é que o uso delas cresça. Cada vez há mais serviços, produtos e projetos de criptomoedas AI. E a segurança do blockchain com a capacidade de análise e personalização da inteligência artificial cria grandes expectativas em diversas indústrias.
Mas, além do mercado de criptoativos, que abraçou rapidamente a ideia e já aproveita os benefícios, o setor de jogos já começa a dar passos nessa direção. Estúdios como o Redcatpig e VEU têm sido exemplos dessa abordagem cuidadosa. No caso do estúdio Redcatpig, eles lançaram o jogo HoverShock em 2024, que conta com skins e drones baseados em tokens não fungíveis (NFTs).
Esses itens podem ser comercializados dentro do próprio jogo utilizando dinheiro tradicional ou criptomoedas. A ideia, conforme explicado por Marco Bettencourt, CEO do Redcatpig, é oferecer aos jogadores a possibilidade de serem os verdadeiros proprietários de seus itens no jogo, sem a necessidade de compreender tecnicamente como o blockchain funciona.
Bettencourt disse que todos conhecem a nova tecnologia, mas ninguém vai vender um jogo usando termos como blockchain ou Web3. O que o jogador precisa saber é que, ao comprar uma skin, ele é o dono e pode vendê-la quando quiser.
Resistência e potencial de crescimento
A integração da blockchain no mercado dos jogos, como é de se esperar, ainda enfrenta algumas dificuldades. O estúdio VEU, por exemplo, se especializou em soluções de IA para mundos virtuais, mas enfrentou críticas ao tentar incorporar a blockchain em seus projetos. Para Nuno Rivotti, chefe de produto da VEU, o objetivo é fazer com que os jogadores simplesmente apreciem o produto, sem precisar entender a tecnologia subjacente.
Segundo ele, os jogadores não precisam saber o que estamos fazendo; eles só precisam perceber o produto. A percepção geral é que, à medida que o blockchain se tornar mais natural na experiência de jogo, a resistência à tecnologia também diminuirá, assim como aconteceu com outras inovações tecnológicas no passado.
Em termos de adoção no Brasil, a integração da blockchain e IA tem se expandido gradualmente, com algumas startups focadas em desenvolver soluções aplicáveis ao mercado de jogos. Segundo o Relatório da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), o Brasil tem investido em tecnologias disruptivas para fortalecer seu ecossistema de inovação.
A blockchain está entre as principais áreas de interesse, especialmente quando aplicada ao entretenimento e jogos digitais. Em 2023, estimou-se que mais de 5% dos estúdios independentes no Brasil estavam explorando tecnologias como blockchain para novas formas de engajamento dos jogadores.
Blockchain e IA: A parceria silenciosa
A inteligência artificial também tem um papel importante na criação de experiências mais fluidas e imersivas para os jogadores, ao lado do blockchain. IA vem sendo utilizada tanto para moderar interações no jogo quanto para personalizar a experiência de cada jogador. Estudos mostram que 80% dos jogadores preferem experiências que se adaptam automaticamente ao seu estilo de jogo.
Durante o evento Madeira Blockchain 2023, realizado entre os dias 30 de novembro e 1 de dezembro, um ponto importante levantado foi como os estúdios que trabalham com blockchain estão, aos poucos, encontrando formas de integrar a tecnologia aos seus jogos sem criar fricção com a comunidade.
A conferência discutiu também como governos e entidades públicas estão apoiando projetos de blockchain no setor de games. Em Portugal, por exemplo, o eGames Lab é um consórcio de 22 entidades que promove a internacionalização da indústria de jogos, incorporando blockchain como parte de suas estratégias de investimento.
No Brasil, o Plano de Ação para o Desenvolvimento do Blockchain (PADB) busca fomentar a adoção dessa tecnologia em vários setores, inclusive no entretenimento digital, como uma forma de inovar e agregar valor à experiência dos consumidores. Espera-se que mais estúdios brasileiros comecem a integrar soluções blockchain de forma mais natural.
Acompanhando a tendência internacional e explorando novos modelos de negócio, como os jogos play-to-earn, que permitem que jogadores sejam recompensados com criptoativos, o mercado brasileiro de jogos deve crescer ainda mais. Os jogadores brasileiros, segundo uma pesquisa realizada pela Newzoo em 2023, já estão entre os mais engajados do mundo, com mais de 70% relatam interesse em novas tecnologias para jogos, como blockchain.
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